segunda-feira, 20 de junho de 2016

Oi, eu sou a Mel

Oi Lolly,
Tudo bom com você?
Eu me chamo Melissa e queria começar um diário. Mas acho que começar com querido diário uma coisa muito chata. Por isso resolvi te chamar de Lolly.
Eu tenho 25 anos. Atualmente sem estudar e sem emprego. Isso não é bom, eu sei. Mas eu sei que em breve isso vai mudar. Se Deus quiser!
Sabe, Lolly, ultimamente as coisas não estão saindo conforme eu planejava. Eu que sempre fui muito segura em tudo o que eu fazia e não tinha medo de nada... Comecei a me deparar com algumas situações que eu não estava acostumada a vivenciar. Mas antes, tenho que te contar uma história que aconteceu no ano passado...

Eu namorava, sabe? Um cara que era meio muito babaca, pra não falar coisa pior. Um belo dia, descobri que ele me traía. Desde então eu nunca mais o procurei. E esperava que isso fosse igual pela parte dele, sabe? Ele já tinha pisado muito feio na bola comigo, pra quê estragar mais, né? Foi exatamente o que eu pensei. Mas não foi assim que aconteceu.
Durante um tempo ele ficou me ligando, me ameaçando e eu não sabia mais o que fazer. Eu ficava com medo de ir trabalhar, de sair com os meus amigos e até de ter outro relacionamento. Ele era extremamente agressivo, sempre falava que o melhor jeito de resolver as coisas era na porrada.
Até que um dia eu estava na casa de uma amiga. Essa amiga, por sinal, foi o motivo pelo qual eu me separei dele. Eu conheci essa menina da pior forma que alguém pode conhecer outro alguém. Ela era a outra, mesmo sem saber. Nesse mesmo dia ele tinha me pedido pra poder encontrá-lo numa praça daqui de Belo Horizonte. Eu disse que não iria. A minha decisão já estava tomada, eu não tinha porque falar mais nada com ele e acho que ele não tinha mais nada pra falar comigo. Tudo o que aconteceu já tinha me mostrado o tipo de pessoa que ele era e aquilo me fazia mal. Muito mal.
Estávamos bebendo e conversando, fazendo um encontro de menininhas na casa dessa minha nova amiga quando o telefone toca. Era ele. Eu não queria atender, mas ele insistiu demais. O apoio das meninas me fez atender aquela ligação em viva voz.
Ele me intimidou mais uma vez. Perguntou onde eu estava e porque não tinha ido ao lugar que ele tinha marcado pra me encontrar. E eu disse que não tinha mais nada pra falar pra ele. O que ele não sabia era que eu estava com as pessoas que ele antes tinha conversado e falado que nunca tinha tido nada comigo... Num ataque de hormônios, todas nós falamos que sabíamos de toda a farsa e que ele poderia seguir a vida dele sem nos perturbar.
Ele seguiu com a vida dele? Não! Ele foi atrás de mim. Ele começou a rondar o quarteirão da casa da minha amiga. Uma, duas, três vezes. Estávamos em cinco. Mas éramos só mulheres. E um homem furioso lá fora. Ligamos para a polícia. Uma mulher atendeu. Disse pra que trancássemos as portas e fechássemos as janelas. E que não era pra atender mais o telefone. Foram os piores 40 minutos da minha vida. Ele lá fora, eu trancada dentro de uma casa que não era minha. A polícia chegou e teve que correr atrás dele. Ele pensou em fugir. "Problema" resolvido com a polícia, ele foi embora, mas o medo dele até hoje existe aqui dentro. Isso faz 1 ano.

Por alguns meses depois ele ainda tentou de algumas formas me intimidar. E eu comecei a viver em estado de alerta. Sempre que a minha mãe me ligava falando que ele tinha ligado pro número da minha casa, eu tinha medo de voltar pra casa. Sempre que um número privado ligava pro meu celular, eu já ficava olhando pra todos os lados, pra ver se ele estava ali me vigiando.
O medo foi passando ao passo que eu fui me libertando daquela história que vivi. Eu realmente me senti numa novela e que eu estava fugindo do vilão.
Sempre que sonhava com ele, meu medo voltava e ficava em estado de alerta. Até que um dia esse estado de alerta me fez não querer mais sair de casa.

Sabe como se chama isso, Lolly? Síndrome do pânico. Toda vez que eu precisava sair de casa, parecia que meu coração ia sair pela boca. Eu sentia que estava sendo perseguida o tempo todo. Eu andava olhando todos os lados. Eu contava todos os segundos pra voltar pra casa.

Hoje, um ano depois que passei tudo isso, ainda tenho minhas marcas. Ainda tenho cicatrizes que não queria ter. E é por isso que comecei a escrever. Eu quero te contar como eu lido com isso no dia a dia. E como as pessoas que estão à minha volta lidam com isso também.

Acho que por hoje é só, Lolly. Amanhã eu volto com mais novidades pra te contar.

Um grande beijo,

Mel

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