quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Querida depressão

Vamos ser bem sinceras uma com a outra. Eu não gosto de você e você não gosta de mim. Já está bem claro que queremos nos destruir, embora eu queira mais, a meu ver, que você parta sem deixar rastros. Você é bem chata, sabia?
De querida, você não tem nada. Não me deixa dormir, me deixa com cara de morta e me faz querer viver numa bolha. Eu já vi todos os filmes existentes no Netflix. Sabe porque? Eu tava sem assunto com o meu namorado.
Meu cabelo tá caindo e mesmo comendo besteiras, já perdi 7 quilos. Dá pra você? Já fui em 2 médicos, tomo 5 remédios por dia e tenho que colocar no despertador as principais refeições. Já pensei em deixar você acabar comigo.
Eu não sei porque você tá aqui nem qual a lição você quer deixar comigo quando isso tudo acabar. Mas, pega mais leve, miga, eu tô me esforçando bastante pra dar conta do seu ritmo.
Meu corpo tá doendo e minha mente cansada. Me dá uma trégua. Prometo nunca mais te desafiar ou dizer pra quem tá com você que é só uma fase e vai passar... porque você não é só uma fase, é a pior delas e eu não desejo isso pra ninguém. Nem pra você mesma.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

diário de depressão

A luz que entra pelo quarto é vermelha. Vermelha pelo lençol que coloquei na janela. Não aguentava mais ver a luz do sol entrando pelo quarto. Meu corpo já não tem posição pra ficar na cama. Mas força pra levantar eu não tenho. Levanto pra comer. Como o que me dá vontade. Meu prato parece o de uma criança de 6 anos. Os 5 remédios que tenho que tomar estão todos anotados no despertador. É a única parte do dia em que abro os olhos e acendo a luz. Qual a diferença entre o claro e o escuro se os dias são todos iguais?
Desde que fui ao médico, a minha vida tem sido uma grande mistura de nada. Eu acho super engraçada a forma como as coisas são colocadas aqui dentro da minha própria casa. Meu irmão estava com um princípio de depressão. Minha mãe comprou um cachorro. Todo mundo aqui em casa é apaixonado com cachorro. Eu fico assim e ela me compra remédios. Meu irmão está super bem... Eu? bom... Tô aqui na cama.
Hoje é sexta. É dia de trocar de casa. Talvez eu fique um pouco melhor na casa do meu namorado. Mas hoje eu entendo porque pessoas em depressão se matam com uma facilidade enorme.

terça-feira, 19 de julho de 2016

TÔ EM CRISE

Oi Lolly, tudo bem com você?
Por aqui as coisas estão ficando muto pesadas, mas acho que é porque eu tô me permitindo ficar fraca. A depressão tá batendo muito forte nesses dias. E eu não faço a mínima ideia do que eu posso fazer pra poder melhorar.
Algumas coisas estão boas. Muitas pessoas em depressão engordam horrores. Eu tô emagrecendo... Cerca de 200 gramas por dia. Isso pra mim tá sendo bacana. Mas... sei lá

Essa semana aconteceu uma coisa muito chata. Eu matei minha mãe mentalmente. Vou explicar. É que a gente sempre teve briga. A gente sempre teve os nossos problemas. Mas essa semana a gente chegou ao nosso cúmulo. Ela veio me dizer que as coisas seriam muito melhores se eu não estivesse aqui. Seria bem melhor que eu não existisse. Daí pra mim foi o fim. Eu preciso mesmo me desligar da minha família. É por causa dela que eu tô ficando mal. Deixei de lado. Pai, mãe, irmãos, primos, primas, todo mundo. Bloqueei no face, no whatsapp, no twitter, em tudo. Agora sou somente eu. Eu e eu contra o mundo. Foi assim que matei. Eu não quero precisar deles e não quero fazer com que a minha presença aqui seja notada. Eu não precisava mesmo, nunca precisei. Me criei sozinha e vai ser sempre assim a partir de agora.

Dá vontade de mostrar pra todo mundo quem são essas pessoas que moram na minha casa, mas eu prefiro evitar a fadiga de ter que explicar que eu sou diferente porque eu não consigo me contaminar com a maldade deles.

Hoje eu tive muita crise. Mas não tomei remédio. Aaaaah, troquei de psiquiatra. Ele me deu alguns remédios novos e eu preciso me adaptar novamente. Nada que eu não esteja acostumada, né?

Tô sem falar coisa com coisa. Mas eu sei que eu estou em crise, então, releva, Lolly.
Vou olhar o preço dos remédios pra comprar.

Beijos

Mel

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Sumiço, remédios, vida

Oi Lolly, tudo bem?
Por aqui está tudo ótimo e eu tenho que te contar um milhão de coisas, porque eu fiquei bem sumida, né?
Então. Eu sei que eu estava feliz com o meu tratamento, mas depois de três dias de crise de choro compulsivo, resolvi dar um tempo deles pra ver o que estava realmente acontecendo. Desde quinta feira estou sem os remédios e estou me sentindo bem. Bem melhor do que quando tinha minhas crises. Eu percebi que eu não tava tomando os remédios certos, ou que as doses estavam erradas, ou que eu tive mais um diagnóstico errado.
Eu tenho crise quando estou muito estressada. Eu começo a tremer e achar que o mundo está acabando. Mas eu tive várias tomando remédio e bem poucas crises sem ele. Ok, estou assumindo por minha conta o risco de não estar medicada. Mas tô me sentido melhor.
Eu tinha algumas coisas pra resolver na minha vida, do tipo arrumar emprego, tentar começar minha vida sozinha, ver se realmente vou fazer uma cirurgia que mude a minha vida pra sempre e eu tirei esse tempinho pra pensar. Por isso sumi.
A vida às vezes é muito difícil, sabe Lolly. Dá uma vontade enorme de sair correndo. Eu quis esses dias sair correndo. Tava um clima pesadão aqui em casa e mô veio me socorrer e me tirar daqui. Sempre ele... Meu super herói.
Esse fim de senama teve o casamento do meu padrinho, que foi bem legal. Na verdade, por não ter sentado com a minha família (que é um porre) e ter arrumado uma mesa pra dois, foi como um jantar com o mô (e um belo jantar, já que foi de grátis). Palhaçadas à parte, foi bem legal e bem bonito e espero que eles sejam bem felizes.
Essa semana também aconteceu uma coisa bem diferente, digamos assim.
Eu tenho uma amiga que sempre me ajudou em relação às minhas crenças (sou católica não praticante, mas acredito muito em todas as formas de manifestação de energia e poder). Depois de quase um ano sem nos falarmos, eu mandei pra ela uma mensagem contando tudo o que tava me afligindo naquela noite. (era mais uma das minhas crises de choro.) Ela abriu as cartas pra mim e me ajudou. Me senti protegida. Peço a Deus todos os dias pra que Ele possa ajudar e dar forças a todos aqueles que estão com minha amiga pra que ela continue conseguindo fazer tudo que ela faz por mim e por seus protegidos. Dois dias depois foi o casamento do meu padrinho e eu senti algumas coisas que só tinha sentido uma vez. Que foi quando eu vi e senti a manifestação dos outros tipos de energia e de poder.
Hoje tô me sentindo bem leve, talvez por essa sensação de que estou protegida. Quem cuida de mim nunca dorme e eu sei que Ele me ama.
Bom... Eu ainda tenho que fazer algumas coisas e tá quase na hora da minha aula preferida. Vou ficando por aqui. Mas eu volto, tá!? Prometo!

Um beijo e até a próxima!

Mel

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Sou reclamona

Oi Lolly, tudo bem?
Por aqui anda melhor. Melhorei um pouco meu humor. O que não significa que eu esteja um poço de doçura, mas tá dando pro gasto. Essa é a sétima carta e o 18º dia de tratamento. Alguma coisa mudou desde o primeiro dia? Sinceramente? Eu acho que não muito. Algumas coisas mudaram. Minha mãe diz que eu não tô muito falante mais, mas o mô acha que eu tô mais falante sim. Eu tenho ficado mais quieta e sem muita vontade de fazer as coisas. Se eu pudesse ficar na cama dormindo o dia todo, com certeza o faria. Eu tive crise, o que significa que o remédio não tá se comportando como deveria. Eu choro às vezes e isso também não podia acontecer. Hoje, particularmente, eu estou muito sonolenta e queria dormir. Mas essa vontade fica inibida pela fala da minha mãe que diz que tô parecendo um peso morto em casa. Então eu fico parecendo um zumbi dentro de casa, com olheiras horríveis e cara de poucos amigos.
Meu pai ainda não foi comprar as minhas aulas da auto escola. Ele quer que eu marque o exame, mas eu ainda não me sinto preparada pra tal coisa. Tenho certeza que os examinadores têm cara de monstro e eu não vou conseguir fazer nadinha.
Ontem foi aniversário de uma amiga minha e fomos para uma pizzaria. Foi bem legal. O mô foi comigo. ele pediu um Uber pra que eu voltasse pra casa e ele foi de taxi. Ele ainda tá sem carro e isso tá sendo chato pra gente. ele ainda sem carro e eu ainda sem carteira. como não posso beber por causa do rivotril, eu poderia ter levado o carro e estaria tudo bem.
Eu tô ficando com a cabeça vazia e isso tem me deixado um pouco preocupada. não é cabeça vazia por não ter nada pra fazer. É cabeça vazia de às vezes não pensar em nada. Nunca me aconteceu isso. Minha mente sempre foi inquieta, mas agora eu acho que tá quieta demais.
Será que eu vou ter que mudar todo o meu tratamento? Será que a síndrome do pânico pode ser outra coisa que não síndrome do pânico?
Eu tava lendo na internet e os sintomas de síndrome do pânico e stress pós traumático são bem parecidos. E que o stress pós traumático pode levar a um quadro de depressão.
Como disse minha amiga ontem, eu não vou ficar mentalizando isso porque atrai. Eu vou tentar ficar mais focada nas coisas que tenho que concluir e nas metas que coloquei pra mim desde que comecei a fazer visitas ao doutor psiquiatra. Eu só quero me sentir bem por inteiro e não pelas metades.
Eu vou ficando por aqui, Lolly.
Já reclamei demais, né?
Até mais!
Um beijo,

Me

terça-feira, 28 de junho de 2016

Ando muito nervosa

Oi Lolly, tudo bem?
Por aqui não anda nada bem. Eu tô começando a entender as coisas que estão acontecendo comigo e à minha volta e não tenho gostado.
A situação de não ter emprego ainda se mantém. Mas no fim de semana a minha mãe teve uma briga feia com o meu pai por ele não conseguir dar conta da casa. Parece que as coisas aqui giram em torno do dinheiro. Que o ter é mais importante que o ser. E eu acho que só eu sei o quanto isso me incomoda. Quem vê o preço das coisas não vê o valor das pessoas. Isso me irrita porque, enquanto eu não tenho um emprego, eu sou só mais ma despesa da casa, não uma pessoa. Despesa com comida, água, luz, telefone, internet, remédioS e a carteira de motorista que minha mãe tinha me prometido quando eu ainda morava com o mô.
Hoje, na hora do almoço eu descobri o que tá desencadeando minhas crises. O gatilho é sempre uma raiva extrema. E eu começo a tremer muito, ter taquicardia e parece que meu corpo desliga e eu não consigo mexer um músculo. Hoje eu tive isso quando eu tava conversando com o meu pai e ele me fazendo raiva. Mas não é aquela raivinha de ser contrariada. É uma raiva que me consome e me faz querer matar um. Mas a reação do meu corpo é contrária a isso. Ele fica estático. Eu não consigo pensar em nada, só fico remoendo o que me foi falado e consigo pensar em mil respostas. Nenhuma sai.
Eu não sei se eu fiz certo, mas pra não ter uma crise maior, eu tomei o meu ansiolítico na hora. Talvez eu tenha feito errado, mas me deu uma sensação de bem estar em alguns muitos minutos depois.
16 dias de tratamento e ainda tô com crises de choro. Não sei se posso chamar de crise de choro. Meus olhos enchem de lágrimas o tempo todo sem motivo aparente. Eu ando um pouco mais paciente e ainda escuto que estou mais alegre e pra cima. Não sei até onde isso é bom. Tô sentindo falta de álcool. Eu gosto muito de cerveja e tenho medo de misturar com os remédios. Dizem que eu posso beber um pouco, mas prefiro não arriscar. E parar 2 dias de tratamento pra beber numa festa, eu não tô achando muito vantagem não. Em relação a dormir, tem sido a mesma coisa. Tô tendo um sono leve e acordo muitas vezes. Consigo dormir melhor ouvindo musica, mas pra minha infelicidade, meus fones estragaram. Ótimo!

Por hoje acho que é só, Lolly. As coisas não estão saindo pelos meus dedos. Parece que  tô com um nó na garganta.
Amanhã conversamos mais.
Um beijo,

Mel

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Primeira crise pós tratamento

Oi Lolly, tudo bem? 
Por aqui hoje tá tudo legal. Mas ontem eu nem consegui vir aqui porque eu tive uma crise. Não foi uma crise daquelas bem bravas. Mas eu tive falta de ar e meu coração ficou acelerado. Eu não conseguia sair do lugar. 
Tudo começou quando a minha mãe veio conversar comigo. Já tem um tempo que Mô tá sem carro, porque tá lá na concessionária. Eu sei que a mãe dele também tem carro, mas a gente evita ao máximo pedir o carro pra ela pra não dar nenhum motivo dela falar alguma coisa. Até aí, tudo bem. 
Logo depois ela começou a falar que todos os meus relacionamentos são iguais. Que eu me contento com migalhas e não sei o que mais. A partir daí eu não consegui escutar mais nada. Me veio a lembrança do cara que me perseguia. Meu namoro não é nem de longe igual àquilo que passei. Meu namorado me apoia, me ajuda em tudo que está ao alcance dele. Eu fiquei 5 meses na casa dele por uma briga que tive com a minha mãe. Eu não concordo muito com as coisas que ela fala ou faz. E isso fez com que a gente brigasse. Em momento algum meu namorado me deu as costas ou disse que não poderia me ajudar. Ele e minha sogra me ajudaram como puderam. E ainda ajudam bastante. Isso pra mim não são migalhas. 
E mesmo se eu e mô nos víssemos uma vez ao mês. Quem é ela pra falar do nosso relacionamento?! 
Eu fiquei com muita raiva na hora e fiquei remoendo aquela conversa no caminho pra casa da minha vó. Quando cheguei lá e ela me perguntou se o carro já tava pronto, porque ela tava com saudade do mô eu saí correndo pra sala. Foi aí que começou a crise. Eu não conseguia parar de chorar, meu coração estava quase saindo pela garganta e eu não conseguia me mexer. Era como se alguém tivesse me segurando e eu não tivesse domínio do meu corpo. Foi horrível. 
O que mais me doeu foi que todos trataram aquilo como pirraça da dona Melissa. De quando começou a crise, até a hora de chegar em casa, acredito que tenha se passado uma hora. 
Tomei meus remédios de sempre e tentei dormir. Acordei no meio da noite bem assustada, como aqueles pesadelos de filme, sabe? Mas logo voltei a dormir. 
Eu ainda tô pensando se eu marco uma consulta de emergência com o doutor psiquiatra ou se deixo pra relatar isso no dia 06. tá tão perto que acho exagero ficar indo lá toda hora. 
Hoje eu e mô vamos sair pra jantar. Uma coisa que a gente não fazia já tinha um tempinho. Hoje comemoramos 9 meses juntos. E vamos no mesmo sushi de sempre, pedir o prato de sempre, como sempre. Eu gosto desses nossos sempres. 
Tô tentando arrumar emprego, mas tá tão difícil. Eu fiquei duas horas em sites de vagas de emprego e eu ache míseras duas vagas. Talvez eles nem me chamem. Porque é sempre isso que acontece. Eles nunca nem ligam pra falar que meu curriculo é uma bosta e não presta pra vaga que eles estão oferecendo. Tá me frustrando além do normal essa questão. Mais frustrante ainda é escutar do meu pai que eu não arrumo emprego porque eu não quero. Se fosse por isso... Meu Deus! 
Lolly, eu vou ficando por aqui. 
Amanhã conversamos mais. 
Um beijo 

Mel

sábado, 25 de junho de 2016

Eu não gosto de frio

Oi Lolly, tudo bem?
Aqui em casa hoje está bem frio, você não tem noção. Diz o termômetro do Google que tá 16°, mas a minha sensação térmica é de -58°. Eu não sei lidar com o frio.
Hoje é sábado. Dia que geralmente eu tô com o mô. Mas por questões de ~eu não queria me irritar com a minha sogra numa viagem estressante~, tô aqui em casa mesmo.
Hoje eu fiquei pensando sobre a minha maneira de lidar com as situações frustrantes da minha vida e eu cheguei à uma conclusão. Vai demorar muito ainda pra que eu aprenda como eu faço pra não me sentir frustrada por tudo.
Ontem eu fiz uma coisa que eu espero que o meu doutor psiquiatra não sonhe que o fiz. Eu dobrei a minha dose de remédio que ele disse que era pra dormir e que eu não durmo. É, tomei 2mg de rivotril. E não dormi.
Tem uns dias que umas coisas aqui em casa estão me irritando fora do comum. Tem uma menina que mora com a gente. Ela era paciente da minha mãe, mas por questões éticas, hoje não é mais. Ela é bem pessimista e acha que o mundo tá contra ela. Ela reclama de tudo, ela acha tudo difícil e acha bem legal "pirraçar" quem tá tentando ajudar.
Essa história seria muito menos dolorosa pra mim se cada uma tivesse seu próprio quarto, mas, pra completar, eu tenho que dividir o quarto com a reclamona. E quando ela tá de ovo virado, sai da frente. Parece que não existe ninguém mais nessa casa, ou que as pessoas que estão aqui não são nada. São como pesos de papel. Ela coloca o som alto dela e não se importa se as pessoas não querem ouvir a mesma coisa que ela. Ela deixa o meu quarto zoneado, e olha que ele nem é grande. Mas, o que mais me irrita é o fato de que a minha mãe sempre fala que vai conversar com ela e vai dar um ultimato - ou ela melhora, ou ela volta pra casa dos parentes dela - mas ela nunca faz isso. Ela sempre encara as coisas como "vai melhorar uma hora, eu tenho certeza, eu não acredito que eu tenho que dar educação pra uma pessoa de 26 anos".
Bom, a minha história não é bem assim. Quando eu precisava de apoio, não consegui isso dentro de casa. Eu sei que eu não fui um exemplo de filha, talvez tenha sido o exemplo a não ser seguido, mas hoje eu sinto que a minha mãe me substituiu. Por ela. E por isso não toma nenhuma atitude.
Eu tô começando a achar que eu tive essas crises de pânico ultimamente por causa disso. Eu me vi completamente sozinha. Se eu não tivesse o mô pra me ajudar quando eu precisei e preciso, eu não sei se teria a ajuda das pessoas de dentro da minha casa. Talvez a questão seja mais profunda que eu imagino.
13 dias de antidepressivo e ainda não sei opinar sobre como estou. Ontem eu tive crise de choro, hoje eu tô com a mesma sensação. As pessoas com quem convivo dizem que estou mais alegre que antes. Mas não sei o quanto isso é bom. Ainda tô em estado de análise. Não tô dormindo direito, nem dobrando a dose do remédio. Já marquei médico e eu preciso conversar com ele sobre essa situação. Eu preciso dormir. Eu não sou feliz sem dormir. Eu tô tendo muita dor de cabeça também. Não posso esquecer de falar isso com ele. Ultimamente não tenho sentido medo e tenho sido mais afetuosa com a minha família e com meus cachorros. Será que isso é um bom sinal?

Eu vou indo, Lolly. Amanhã conversamos mais.
Um beijo,
Mel

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Frustrações

Oi Lolly, tudo bem?
Por aqui está tudo mais ou menos na mesma e isso não tem me agradado. Ultimamente eu só tenho escutado dos meus pais que eles não estão preparados pra ter uma família com 6 pessoas. Até o mês passado eu morava com o mô, então as despesas daqui de casa eram bem menores. E eu trabalhava. Ganhava uma mixaria, mas dava pra passar o mês. Mô me ajudava bastante, mas dava pra passar o mês. Agora que eu tô na casa da minha mãe, eu tô tirando carteira. A auto escola é um pouco longe pra ir a pé. Ainda mais quando se tem 35 quilos a mais do que você realmente deveria ter. Eu peço minha mãe dinheiro e ela sempre me pergunta "eu tenho cara de banco?"
Não, mãe, você não tem cara de banco. Mas é justamente por eu não ter dinheiro no banco que eu tô te pedindo. Isso me frustra.
Eu não tenho dormido, mesmo com os remédios que o doutor psiquiatra me indicou. Isso também tem me frustrado.
Mas o que mais me frustrou hoje foi saber que eu estou dirigindo bem e que, se a prova tivesse sido hoje, eu não teria passado por erros mínimos, porém eliminatórios. Isso foi uma mega frustração.
Frustração maior ainda foi escutar do meu instrutor que eu tenho que comprar mais 15 aulas e isso significa pedir a minha mãe mais dinheiro, mais uma vez. Eu tenho certeza que vou me frustrar de novo.
Eu ainda não sei lidar com a minha frustração. Eu fico chateada e todo mundo consegue perceber que não estou bem. Antes, quando eu conseguia dormir, eu ficava na cama o dia inteiro e conseguia dormir quase as 24 horas do dia. Mas hoje, com a insônia, eu só consigo ficar emburradda mesmo.
Não é que eu não esteja procurando o que fazer, ou não ajudando minha mãe em casa. Mas eu tô querendo muito sair dessa e quando peço ajuda a quem deveria me ajudar, só escuto críticas. Daquelas que não te fazem crescer, e sim querer ficar num cantinho, sem que ninguém te veja até a sua vergonha passar.
Tô com meu e-mail aberto e já mandei alguns curriculos. O que eu acho que hoje, nessa crise que o Brasil está, não adianta muita coisa. Se você não tem alguém pra te indicar dentro de uma determinada empresa... Já era.
Já são 12 dias de antidepressivo e eu não sei direito o que pensar sobre. Na maior parte do tempo eu estou bem, mas quando eu tô com o sentimento de frustração, eu não me sinto confortável e fico me cobrando pra que eu fique bem. E eu aprendi nuns tempos que eu fiz terapia que a gente tem que se permitir sentir aquilo que estamos sentindo. Então aí o remédio não tá ajudando em nada. Mas eu sei que ele só vai me ajudar se eu quiser me ajudar e eu não tenho tentado o suficiente, pelo visto.

Por hoje é só, Lolly.
Eu não sei como vai ser o fim de semana, mas te escrevo.
Um beijo!

Mel

terça-feira, 21 de junho de 2016

Coisas que o tédio faz

Oi Lolly, tudo bem?
Por aqui tá tudo bem também, eu tô meio entediada porque não tem nada pra fazer nessa BH fria numa terça à noite. Lá fora eu tô escutando a roupa bater. Eu tive que colocar pra lavar, porque se eu não lavasse, amanhã não teria roupa pra usar. rsrs
Ontem eu te contei como que surgiram os sintomas da síndrome do pânico em mim, né? Pois bem... Acho que eu quero falar um pouquinho sobre isso.
Ano passado eu não fiz nenhum tratamento junto com doutores psiquiatras. Eu achava que conseguia me controlar sozinha. E por muito tempo eu consegui. Eu via quando eu ia ter uma crise e sempre me controlava, fosse ficando em casa e desistindo do rolê, ou enfrentando o medo, mesmo com o coração na garganta.
E muita coisa também aconteceu que me deixou mais forte e mais confiante. Depois de oito meses do ocorrido lá com aquele ser que me perseguia, eu comecei a namorar. E eu dei muita sorte de namorar meu melhor amigo. Eu não sei explicar, mas isso me deu uma força que eu achei que não tinha.
Depois de algum tempo, eu e o mô começamos a perceber que toda vez que eu tomava um susto, ficava muito estressada ou angustiada, eu disparava a falar e às vezes eu tinha crise de choro. Assim, do nada. Mas antes não era uma coisa que preocupava. Como a gente sempre saiu juntos, eu me sentia segura de sair em qualquer horário do dia.
Há mais ou menos um mês, esses sintomas começaram a ficar mais aparentes. Eu estava num trabalho estressante e sempre que chegava no carro do mô pra ir pra casa, eu falava o caminho inteiro. Eu não o deixava nem respirar pra poder falar um "uhum". E quando eu marcava alguma coisa que ele não podia me levar, eu ficava com medo de ir sozinha e acabava marcando em um horário em que ele estivesse livre.
Comecei a conversar com ele sobre a hipótese de fazer um tratamento pra isso, procurar ajuda. Meu estado de alerta tinha voltado. Depois de muito relutar, procurei ajuda de um psiquiatra.
Ele me disse que o trauma do ano passado, por ter sido reprimido, poderia estar me causando essas crises. E que não há um fator que desencadeie a crise. Eu tenho um trauma e esse trauma já é o motivo pelo qual a qualquer momento eu posso ter medo de tudo e todo mundo, achar que eu vou morrer, ter taquicardia, crise de choro ou falar mais que lavadeira quando perde sabão.
Pois bem. Eu te disse que tô desempregada e sem estudar, né?
Minha mãe tem me ajudado muito nessa parte. Bem do jeito dela. Sempre que dá ela joga na minha cara que eu tô sendo sustentada. Na maior parte do tempo eu tento relevar. Mas eu reclamava muito disso.
Tem 9 dias que comecei o meu tratamento indicado pelo doutor psiquiatra. Eu tô tomando um antidepressivo e um remédio que ele disse que era pra dormir. Eu não tenho conseguido dormir com ele, mas ele foi muito bom em me relaxar. Acho que eu andava estressada demais com todas as coisas que estavam acontecendo comigo.
Ainda tô em fase de adaptação, mas já vejo algumas melhoras. Andar sozinha à noite é uma coisa que eu não faço. Mas eu não me via dirigindo e estou fazendo aulas pra tirar carteira. Um avanço? Talvez. Estou bem mais calma também, mesmo sem conseguir dormir. Isso me lembra que eu tenho que marcar outra visita ao doutor pra ver o que fazer em relação a dormir. Tô trocando o dia pela noite e eu quero parar com isso.
Lolly, você tem medo de alguma coisa?
Acho que vou ficando por aqui, a roupa acabou de bater e eu preciso colocar pra secar.
Amanhã te conto mais coisas. Obrigada por me ajudar nessa caminhada. Gosto de conversar com você.

Até amanhã!
Um beijo

Mel

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Oi, eu sou a Mel

Oi Lolly,
Tudo bom com você?
Eu me chamo Melissa e queria começar um diário. Mas acho que começar com querido diário uma coisa muito chata. Por isso resolvi te chamar de Lolly.
Eu tenho 25 anos. Atualmente sem estudar e sem emprego. Isso não é bom, eu sei. Mas eu sei que em breve isso vai mudar. Se Deus quiser!
Sabe, Lolly, ultimamente as coisas não estão saindo conforme eu planejava. Eu que sempre fui muito segura em tudo o que eu fazia e não tinha medo de nada... Comecei a me deparar com algumas situações que eu não estava acostumada a vivenciar. Mas antes, tenho que te contar uma história que aconteceu no ano passado...

Eu namorava, sabe? Um cara que era meio muito babaca, pra não falar coisa pior. Um belo dia, descobri que ele me traía. Desde então eu nunca mais o procurei. E esperava que isso fosse igual pela parte dele, sabe? Ele já tinha pisado muito feio na bola comigo, pra quê estragar mais, né? Foi exatamente o que eu pensei. Mas não foi assim que aconteceu.
Durante um tempo ele ficou me ligando, me ameaçando e eu não sabia mais o que fazer. Eu ficava com medo de ir trabalhar, de sair com os meus amigos e até de ter outro relacionamento. Ele era extremamente agressivo, sempre falava que o melhor jeito de resolver as coisas era na porrada.
Até que um dia eu estava na casa de uma amiga. Essa amiga, por sinal, foi o motivo pelo qual eu me separei dele. Eu conheci essa menina da pior forma que alguém pode conhecer outro alguém. Ela era a outra, mesmo sem saber. Nesse mesmo dia ele tinha me pedido pra poder encontrá-lo numa praça daqui de Belo Horizonte. Eu disse que não iria. A minha decisão já estava tomada, eu não tinha porque falar mais nada com ele e acho que ele não tinha mais nada pra falar comigo. Tudo o que aconteceu já tinha me mostrado o tipo de pessoa que ele era e aquilo me fazia mal. Muito mal.
Estávamos bebendo e conversando, fazendo um encontro de menininhas na casa dessa minha nova amiga quando o telefone toca. Era ele. Eu não queria atender, mas ele insistiu demais. O apoio das meninas me fez atender aquela ligação em viva voz.
Ele me intimidou mais uma vez. Perguntou onde eu estava e porque não tinha ido ao lugar que ele tinha marcado pra me encontrar. E eu disse que não tinha mais nada pra falar pra ele. O que ele não sabia era que eu estava com as pessoas que ele antes tinha conversado e falado que nunca tinha tido nada comigo... Num ataque de hormônios, todas nós falamos que sabíamos de toda a farsa e que ele poderia seguir a vida dele sem nos perturbar.
Ele seguiu com a vida dele? Não! Ele foi atrás de mim. Ele começou a rondar o quarteirão da casa da minha amiga. Uma, duas, três vezes. Estávamos em cinco. Mas éramos só mulheres. E um homem furioso lá fora. Ligamos para a polícia. Uma mulher atendeu. Disse pra que trancássemos as portas e fechássemos as janelas. E que não era pra atender mais o telefone. Foram os piores 40 minutos da minha vida. Ele lá fora, eu trancada dentro de uma casa que não era minha. A polícia chegou e teve que correr atrás dele. Ele pensou em fugir. "Problema" resolvido com a polícia, ele foi embora, mas o medo dele até hoje existe aqui dentro. Isso faz 1 ano.

Por alguns meses depois ele ainda tentou de algumas formas me intimidar. E eu comecei a viver em estado de alerta. Sempre que a minha mãe me ligava falando que ele tinha ligado pro número da minha casa, eu tinha medo de voltar pra casa. Sempre que um número privado ligava pro meu celular, eu já ficava olhando pra todos os lados, pra ver se ele estava ali me vigiando.
O medo foi passando ao passo que eu fui me libertando daquela história que vivi. Eu realmente me senti numa novela e que eu estava fugindo do vilão.
Sempre que sonhava com ele, meu medo voltava e ficava em estado de alerta. Até que um dia esse estado de alerta me fez não querer mais sair de casa.

Sabe como se chama isso, Lolly? Síndrome do pânico. Toda vez que eu precisava sair de casa, parecia que meu coração ia sair pela boca. Eu sentia que estava sendo perseguida o tempo todo. Eu andava olhando todos os lados. Eu contava todos os segundos pra voltar pra casa.

Hoje, um ano depois que passei tudo isso, ainda tenho minhas marcas. Ainda tenho cicatrizes que não queria ter. E é por isso que comecei a escrever. Eu quero te contar como eu lido com isso no dia a dia. E como as pessoas que estão à minha volta lidam com isso também.

Acho que por hoje é só, Lolly. Amanhã eu volto com mais novidades pra te contar.

Um grande beijo,

Mel